quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Privacidade, Facebook, Bolha

Ontem eu estava assistindo ao Jornal da Globo e uma reportagem me chamou muito a atenção: trata-se de um sistema desenvolvido para o comércio, que combina reconhecimento facial de um usuário do Facebook e as informações sobre ele que estão gravadas no banco de dados dessa rede.

 Aqui está a reportagem (de 15/8/12): http://glo.bo/Pmgcqc.

Bem, do ponto de vista tecnológico, é muito legal. Quem não quer ir na loja e ter um atendimento personalizado, com ofertas especiais, ser chamado pelo nome? Creio que todo mundo. O problema é: o quanto isso é bom?

Eu explico: não é novidade que o Facebook utiliza algoritmos muito eficientes para mostrar ao usuário "o que ele quer ver". Ele faz uma espécie de sugestão, baseado no que parece ser do gosto do freguês. Como ele faz isso? Ah, muito simples. Ninguém passa despercebido nas redes sociais. Por mais que você não poste nada, acaba logando com o Facebook em sites de terceiros, visita perfis com mais frequência, clica em links de usuários específicos. Além disso, tem amigos com os quais você interage mais, perfis em que esses amigos mais comentam. Acredite, montar um perfil com base nessas informações é bem mais fácil que parece.

Mas e quanto às coisas que não vemos mais? Diversas pessoas escrevem coisas que deixam de aparecer nas nossas timelines. É claro que o algoritmo tem algum sucesso, pois muitas dessas postagens, realmente não queremos ver. E quanto às outras? A amiga de infância que ficou grávida, o amigo que entrou na faculdade, o vizinho que está vendendo o carro, uma foto da praça onde você brincava quando era criança. Nada disso é importante?

No caso do sistema em questão, a coisa funciona muito parecida. Uma máquina não é capaz de saber se uma surpresa vai fazer bem a você. E, por isso, não devemos dar a ela o direito de nos esconder essa surpresa. A questão vai muito além da privacidade. A tua vida não se resume a um perfil. Nem as tuas escolhas. Nem o que tu gosta e nem o que não gosta. O ser humano tende a mudar de opinião frequentemente. E isso é sadio. É algo que as máquinas não conseguem. Mas, se estivermos presos em uma bolha, somente com opiniões parecidas às nossas, estaremos jogando no lixo uma competência que somente nós temos. E ficaremos cada vez mais parecidos com os sistemas inteligentes, que de inteligentes, não têm muito, não.